segunda-feira, 9 de maio de 2011

O sumiço de Maria Rosa.

Foram só quinze dias de um idílio diferente, entre eu e Maria Rosa. No começo, quando apareceu na minha calçada, quando me aproximava, mesmo para dá comida ela fugia e entrava num cano (seu esconderijo, até para fugir dos cachorros). Mas o tempo e os meus afetos foram nos aproximando, ela já ousava ficar no meu colo e me acompanhar quando eu andava. Onde estará Maria Rosa? Posso até tê-la matado, pois ela aprendeu a entrar no motor do carro. Joana, no seu eterno pessimismo, diz que ela deve ter ficado entalada no cano, pois estava crescendo e engordando. Ela veio numa hora certa, onde minhas angústias, minhas saudades e minhas tantas coisas que nem sei dizer, ficava a procura de algo, um complemento, qualquer coisa para preencher este vazio imenso que se formou. Quando Joana estava longe, nós nos curtíamos melhor, até flagrei ela correndo, dando pulos, numa demonstração de alegria, talvez me agradecendo. Como foi efêmero e breve e este amor. Só faz 12 horas que ela sumiu, e se estou escrevendo estas besteiras, é por que não tenho mais esperanças de encontrá-la, até andei aqui pelo bairro, olhando, procurando, tudo em vão. Só Monique partilhava comigo esse amor por Maria Rosa, até porque não encontrei mais ninguém para dividir as minhas alegrias em ter perto aquela coisinha preta, completamente preta, só os olhos de um verde intenso e sofrido, também pudera, nascida na rua, sem ninguém a lhe querer. Fico com a tristeza mais profunda sem ter com quem compartilhar, pensar que não tenho o que fazer, então estou escrevendo sobre ela, mais não vou esquecer jamais, aquele olhar penetrante, talvez até só de agradecimento, depois do leite Molico que eu roubava de Joana (no começo achou ruim, depois se acostumou).Tentei educá-la, não deixando ela entrar em casa, afastando-a de Joana, até com medo que ela a repelisse, mas o tempo, tenho certeza, iria aproximá-las. Não sei se aparecerá outra Maria Rosa, entre tantas que perambulam pelas sujas ruas desta cidade. Pequei, eu sei, pois devia ter seguido os conselhos, parece que de me pai, que os gatos não têm amor, aparecem e desaparecem, deixando a saudade e a dor.

Ismael Farias.

PS: texto escrito quando meu pai morava no Maranhão. Maria Rosa era uma gatinha preta.

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