sexta-feira, 3 de junho de 2011
PIPOCA.
"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.
Extraído do livro "O amor que acende a lua", de Rubem Alves.
Ps: Acho que preciso passar por um incêndio.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
No dia de minha morte
Tomarei um café da manhã com sabor de infância feliz. Vestirei uma roupa leve e sem camisa. Estará chovendo. Darei a mão à chuva e dançarei consigo.
A água que alimenta, também equilibrar-me-á os humores, removerá a tristeza, eliminará o restim de melancolia, os nãos rejeitados, os sins infelizes, os por quês não explicados.
No dia de minha morte viajarei pelas mais belas paisagens terrestres e planetárias; comerei sem preocupação com o açúcar ou o colesterol, e cantarolarei rouco, desafinado e firme... em voz alta, claro!
A água que do céu viaja trará consigo a força antípoda da energia do fogo que me faz queimar, arder de satisfação por ter vivido, sentido e encontrado com quem convivi, por quem senti e compartilhei fluídos quânticos de prazer e/ou idéias, conduzindo-me a excelência de ser homem que faz de seus medos, a arma mais combativa e eficaz, na caminhada terrena.
Esse fogo que tanto me aquece o coração, por tantas e tantas vezes, conduzindo a lançar-me sem escrúpulos moralistas, ao sabor do não, bem aceito, do sim, certeiro, sem explicações vis.
Esse fogo em mim aceso pelo vento norte, vento sul, vento de todas as direções e que me aproxima dos pássaros, fomentando diuturnamente em mim, vivendo e degustando o sentimento que mais amo e venero – a liberdade!
No dia que eu morrer, quero cinzas de mim. As cinzas? Que sejam distribuídas nos banquetes dos corruptos, insensatos e maus de coração tirando-lhes a risada falsa, a alegria maldita, a volúpia infame.
Noutra parte, entreguem-lhes nos braços do mar, no colo de Iemanjá onde repousarei.
O tiquim que sobrar, juntem-nas as sementes de flanboyants e as semeiem nos solo de minha terra querida, perto de minha gente e dos meus.
No dia de minha morte, quero festa. Sanfona, zabumba e triângulo tiniiiinndo.
Aos presentes, bolo de puba, milho e batata doce. Para não engasgar, suco de qualquer coisa.
Não deixem faltar cachaça da branca e da amarela, esta última, curtida no carvalho.
Aos amigos de vida, peço apenas um brinde com os dizeres: - Pense n’um caba arretado!!!!
A morte é a primeira gota de vida, é o passo seguinte, é a renovação diária, é o que afasta da ignorância, da estagnação e da inércia; é aprendizado, é maturidade, é sabedoria.
A morte é quem dirige o belo espetáculo da vida.
Júlio Lima
Médico/Professor
E meu amigo.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
É preciso

"É preciso estar sempre embriagado. Eis aí tudo: é a única questão. Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que rompe os vossos ombros e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira. Mas embriagai-vos.
E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a grama verde de um precipício, na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: 'É hora de embriagar-vos! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos: embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira'."
Baudelaire
sexta-feira, 13 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
corda.
nadando contra a corrente.
meu gosto pessoal são outros 500.
amor?
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O sumiço de Maria Rosa.

Ismael Farias.
PS: texto escrito quando meu pai morava no Maranhão. Maria Rosa era uma gatinha preta.
domingo, 8 de maio de 2011
Mundo deserto
No mundo deserto de almas negras
Me visto de branco
Me curo da vida sofrida, sentida
Que deram pra mim
No mundo deserto de almas negras
Sorriso não nego
Mas vejo um sol cego
Querendo queimar o que resta de mim
Vivo no mundo deserto de almas negras
Vivo no mundo deserto de almas negras
Vivo no mundo deserto de almas negras
Na vontade de verdade
Eu quero ficar
E não acredito no dito maldito
Que o amor já morreu
Tenho fé que o meu país
Ainda vai dar amor pro mundo
Um amor tão profundo, tão grande
Que vai reviver quem morrer
quinta-feira, 28 de abril de 2011
"Moço, não se meta
Que ela anda armada
De uma flor e uma canção"
Ferreira Gullar
o afogado
C.F.A.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Marla de Queiroz
(Ontem li algo de Marla e gostei. Fui dar uma olhada no que ela já escreveu e acabei encontrando coisas ótimas. Este trecho diz muito do ando pensando. Aliás, acho que a maioria de nós. Ou não. whatever.)
Extensão
Rio de Janeiro
Eu busquei encontrar na extensão um caminho
Um caminho qualquer para qualquer lugar.
Eu segui ao sabor de todos os ventos
Mas somente a extensão.
Chorei. Prostrado na terra eu olhei para o céu
E pedi ao Senhor o caminho da fé.
Noites e noites foram-se em silêncio
E somente a extensão.
Quis morrer. Talvez a terra fosse o único caminho
E à terra me abracei esperando o meu fim
Porém tudo era terra e eu não quis mais a terra
Que era a grande extensão.
Quis viver. E em mim mesmo eu busquei o caminho
Na ansiedade de uma última esperança
Eu olhei - e volvi à extensão desesperado
Era tudo extensão.
Vinícius de Morais
Lembrei tanto desse poema esses dias....
quinta-feira, 21 de abril de 2011
poema da mamãe.
Gente, gostei demais desse poema da mamãe e achei ótima a idéia de compartilhar com vocês por aqui. Nessa quinta-feira-feriado-meio-chuvosa-que-tem-samba-mais-tarde-em-thaynã nada melhor do que começar assim, né? Sem esquecer de que estamos todos muito felizes porque Rodolfo está aqui em Campina pra gente aproveitar! Um xero e até mais tarde!
Loucura
Meu corpo, palco do desejo
Do amor que quero e vejo
É uma loucura tão louca
Que dá secura na boca
Um amor vivo feito carmim
Vindo ao encontro de mim
E me invade a mente
E me deixa demente
Devaneio urgente
Doente, doente...
Flor despetalada...
Coisas que não existem...
Ai de mim, se em mim não fossem.
Adília Uchôa.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
vida longa ao rei.
domingo, 17 de abril de 2011
nara.
p.s.: uma vez me disseram que elis regina chamava nara leão de "a muda da mpb", mas eu me recuso a acreditar nessa maldade. :~
quarta-feira, 13 de abril de 2011
O Dia Deu em Chuvoso
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
terça-feira, 12 de abril de 2011
Olhai os Lírios do Campo, Érico Veríssimo, pág. 188, 2005.
Tenho ido dormir quase sempre meio triste, talvez o cansaço de mais um dia igual, mas acordo com uma fé que me faz saber do mesmo que Eugênio sabia e assim consigo continuar. Acreditar no agora e no futuro sem olhar pra traz, escolher um caminho e seguir tendo fé, sabendo que é a melhor estrada que você pode trilhar. Um exercício sem fim de vontade. Do mesmo livro: "A vida começa todos os dias" (pág. 179)
Bons sonhos, meus amores.
Comer, Rezar e Amar.
"Por favor, levante do chão. Por favor, você pode vir pra cá? E se admitirmos que nossa relação é ruim mas continuarmos juntos? Aceitamos que brigamos muito, quase não transamos mais, mas não vivemos um sem o outro. Assim, podemos passar a vida juntos, infelizes mas felizes por não estarmos separados."
"Querido David, nós não nos comunicamos há algum tempo, o que me deu tempo pra pensar. Lembra quando você falou que devíamos ser infelizes juntos para sermos felizes? Considere prova do quanto te amo eu ter passado tanto tempo tentando fazer a idéia de dar certo. Mas, outro dia, um amigo me levou a um lugar incrível: o Augusteum. Otaviano Augusto o construiu para abrigar seus restos mortais. Vieram os bárbaros e foi demolido, com o resto. Como Augusto o primeiro grande imperador de Roma imaginaria a queda de Roma e de todo o mundo como ele o conhecia? É um dos locais mais sossegados e solitários de Roma. A cidade cresceu ao seu redor ao longo dos séculos. Como uma ferida, um coração partido ao qual você se apega, pois a dor é boa. Todos queremos que as coisas permaneçam iguais, David. Vivemos infelizes com medo que uma mudança estrague tudo. Aí, eu olhei esse lugar, o caos que ele suportou, o modo como foi adaptado, queimado, pilhado e reconstruído, e me tranquilizei. Talvez minha vida não tenha sido tão caótica. O mundo que é. A armadilha é nos apegarmos às coisas. A ruína é uma dádiva. A ruína é o caminho que leva à transformação. Até nesta cidade eterna, o Augusteum me mostrou que devemos estar preparados para as intermináveis ondas de transformação. Nós dois merecemos mais do que ficarmos juntos por medo de sermos destruídos não ficando.”
Comer, Rezar e Amar.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Oração
Senhor, obrigado pelo dia que passou como também pelo que acaba de começar. Abençoe esse novo dia com toda tua beleza pra que a gente possa ser mais feliz e menos mesquinho. Obrigado porque eu tenho casa, comida, roupa lavada e amor, amor de mãe, amor de pai, amor de irmão, Teu amor, meu amor. Apesar de tudo ainda vale a pena por causa do amor, Tu és quem mais sabe disso. Abençoe grandemente a minha mãe para que ela possa me brindar com sua presença na minha vida ainda durante muitos, muitos, muitos anos... acho q eu não saberia viver sem ela que de longe é meu norte pra tudo. Abençoe porque ela não sabe parar, não sabe como parar essa vida dela tão corrida, estressante, estressada, cansada, não, ela não sabe como parar de amar e por isso continua, vai, faz e acontece. Dá força pra ela. Dá força pra mim também. Abençoe meu pai, com toda sua rudeza eu sei que ele me ama e é bem melhor que muita gente que eu já tive o desprazer de conhecer. Abençoe meus irmãos, cada um deles com toda essa coisa de cada um deles que eu, todos aqui temos de saber lidar, conviver, não é tarefa fácil. Todos temos problemas, todos temos opiniões, gênios, vontades nessa casa que ainda só tem 5 cômodos, imagine. Abençoe os avós, tios, primos, porque não? Abençoe os meus amigos, esses que tentam me entender, me fazem rir e me fazem chorar, me fazem de filho, me fazem de pai, de mãe, de irmão, me fazem do que precisam em todas as horas boas e ruins, abençoe-os muito! Abençoe até aqueles que me esqueceram e aqueles a quem esqueci, se tivemos bons sentimentos uns pelos outros já valeu nem que tenha durado um só minuto. Por fim, me abençoe, me faça acreditar, ter fé que essas coisas todas que me fazem pensar muita besteira, mas muita mesmo, passem, ter fé que aquele meu sonho de uma felicidade modesta vai se realizar, não quero pensar um dia que meus sonhos foram apenas pobres enganos. Pra tudo isso me abençoe com coragem de lutar, perseguir, procurar, quem sabe um dia eu acabe achando mesmo. Por tudo isso me abençoe com tua luz, porque às vezes eu me sinto triste, escuro, e eu preciso continuar seguindo sem medo. Por favor, visite a casa, a cama de cada um desses que eu amo e vele o sono de todos, sim? Todos precisam de uma noite de paz. Todos. A gente nunca sabe se esses sentimentos todos vão voltar na manhã seguinte, talvez nem tenham ido embora, mas de um jeito ou de outro vai ser preciso acordar e, na maioria das vezes, não é só da força física que precisamos. Força, sim? Também. Pra todos nós. Amém.
Choro necessário

Eu não tive tempo de chorar por esse amor, mas sei que isso é necessário. Uma vez, a muito tempo, ouvi a máxima de que “tempo é uma questão de prioridade”, tomei essa frase como uma das verdades que carrego comigo durante toda a vida e certamente agora é mais oportunidade para usá-la. Qualquer pessoa no meu lugar também não daria prioridade ou, pelo menos, preferiria dizer que não teve tempo de chorar por algo que em outros tempos trouxera tanta alegria.
Mas isso é necessário. É imprescindível botar o choro para fora para ele não ficar se derramando por dentro. Fora talvez ele cause constrangimento ou vergonha, mas dentro ele causa dor, dor patológica, antológica, epistemológica.
Chorar, nesse caso, é a cura, a libertação. É sentar frente a frente com a dor e dizê-la: Estou aqui e você pode doer o quanto aguentar, eu não tenho medo. Mais sofreria se continuasse na covardia de abrigá-la em meu coração sem ao menos ter a coragem de olhar para seus olhos.
Parece confusão juntar num mesmo espaço amor, choro, dor sem que esse tripé represente um fim. Mas não estou falando em fim de amor que tem como consequência choro e dor. Estou falando de mudança, de um amor que mudou e que não encontra mais forças na presença, ao passo que a distância se mostra o ingrediente fundamental para sua preservação.
E mudança não representa, de certa forma, um fim? Sim. Toda mudança é um novo começo para um novo fim, no ciclo eterno de Sísifo. Mas o fim de algo que não acabou. E como é mais triste chorar pelo fim de algo que não foi sepultado. Mas é necessário.