Alimento para a alma.
a defesa do poeta.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964
O autor:
Thiago de Mello é o nome literário de Amadeu Thiago de Mello, nascido a 30 de março de 1926, na pequenina cidade de Barreirinha, fincada à margem direita do Paraná do Ramos, braço mais comprido do Rio Amazonas, no meio do pedaço mais verde do planeta: a Amazônia.
Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/tmello.html
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Vai Passar
"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência."
C.F.A
Sem Aviso
(Composição: Francisco Bosco / Fred Martins)
Anda
tira essa dor do peito, anda
despe essa roupa preta e manda
seu corpo deslembrar
Cantavira dor pelo avesso
Canta
larga essa vida assim as tontas
Deixa esse desenganar
Calma
Dê o tempo ao tempo, calma
alma
Põe cada coisa em seu lugar
E o dia virá, algum dia virá
Sem aviso
então...
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Samba da Volta
Hoje acordei bem segunda-feira: vontade de (re)começar qualquer coisa. Eis-me aqui.
Para embalar o "samba da volta", trouxe um texto que li recentemente de Caio f. e que me deixou em estado de catarse por uns longos minutos.
Espero que ele consiga chegar até vocês também.
AO SOM DE SUZANNE VEGA
Para embalar o "samba da volta", trouxe um texto que li recentemente de Caio f. e que me deixou em estado de catarse por uns longos minutos.
Espero que ele consiga chegar até vocês também.
AO SOM DE SUZANNE VEGA
Meu
nome é Caio F. Moro no
segundo
andar, mas nunca
encontrei você nas escadas
Preciso de alguém,
e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices,
subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é
assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia
– eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werher e farrapos de
versos de Jim Morrison. Abaporu heavy-metal –, só sei falar dessas ausências
que ressecam a palma da mão de carícias não dadas.
Preciso de alguém
que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha
boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande
silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o
astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da
água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa
estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e
sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano
que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu
amor; apenas porque te estendo a minha mão.
No meio da fome, do
comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto – preciso de alguém
para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos
nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que
vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo
e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o
meu próprio – tão cansado, tão causado – qualquer coisa vasta e abstrata
quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar
no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar
num outro humano, o mais humilde de nós. Então direi de boca luminosa de
ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes
enganosos transitórios – que importa?
(mas finjo de
adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano,
mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio – viria? Virá? – e
minto não, já não preciso).
Preciso sim,
preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados, quanto minhas
insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu
ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o
sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma
coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar
tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da
tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção
que os antigos chamavam de amor, quando o sexo não era morte e as pessoas não
tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e
misturar coxas e espírito no fundo do outro-você, outro-espelho,
outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de
você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da
parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Tenho urgência de
ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para
me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro
sempre fui pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido.
Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas
cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do
sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste:
preciso de você para dizer te amo outra e outra vez. Como se fosse possível,
como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.
OESP, Caderno 2, 29 julho de 1987
(Gracias, Lara)
Preciso de alguém
que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha
boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande
silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o
astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da
água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa
estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e
sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano
que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu
amor; apenas porque te estendo a minha mão.
No meio da fome, do
comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto – preciso de alguém
para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos
nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que
vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo
e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o
meu próprio – tão cansado, tão causado – qualquer coisa vasta e abstrata
quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar
no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar
num outro humano, o mais humilde de nós. Então direi de boca luminosa de
ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes
enganosos transitórios – que importa?
(mas finjo de
adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano,
mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio – viria? Virá? – e
minto não, já não preciso).
Preciso sim,
preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados, quanto minhas
insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu
ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o
sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma
coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar
tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da
tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção
que os antigos chamavam de amor, quando o sexo não era morte e as pessoas não
tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e
misturar coxas e espírito no fundo do outro-você, outro-espelho,
outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de
você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da
parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Tenho urgência de
ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para
me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro
sempre fui pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido.
Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas
cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do
sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste:
preciso de você para dizer te amo outra e outra vez. Como se fosse possível,
como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.
OESP, Caderno 2, 29 julho de 1987
(Gracias, Lara)
- Texto retirado do blog: http://caiofcaio.blogspot.com.br/
sexta-feira, 3 de junho de 2011
PIPOCA.
Depois da noite de ontem, dos papos e dos comentários de Allan Dantas fui conhecer um pouquinho mais do Rubem Alves...
"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.
Extraído do livro "O amor que acende a lua", de Rubem Alves.
Ps: Acho que preciso passar por um incêndio.
"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.
Extraído do livro "O amor que acende a lua", de Rubem Alves.
Ps: Acho que preciso passar por um incêndio.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
No dia de minha morte
No dia de minha morte despertarei disposto e tranqüilo.
Tomarei um café da manhã com sabor de infância feliz. Vestirei uma roupa leve e sem camisa. Estará chovendo. Darei a mão à chuva e dançarei consigo.
A água que alimenta, também equilibrar-me-á os humores, removerá a tristeza, eliminará o restim de melancolia, os nãos rejeitados, os sins infelizes, os por quês não explicados.
No dia de minha morte viajarei pelas mais belas paisagens terrestres e planetárias; comerei sem preocupação com o açúcar ou o colesterol, e cantarolarei rouco, desafinado e firme... em voz alta, claro!
A água que do céu viaja trará consigo a força antípoda da energia do fogo que me faz queimar, arder de satisfação por ter vivido, sentido e encontrado com quem convivi, por quem senti e compartilhei fluídos quânticos de prazer e/ou idéias, conduzindo-me a excelência de ser homem que faz de seus medos, a arma mais combativa e eficaz, na caminhada terrena.
Esse fogo que tanto me aquece o coração, por tantas e tantas vezes, conduzindo a lançar-me sem escrúpulos moralistas, ao sabor do não, bem aceito, do sim, certeiro, sem explicações vis.
Esse fogo em mim aceso pelo vento norte, vento sul, vento de todas as direções e que me aproxima dos pássaros, fomentando diuturnamente em mim, vivendo e degustando o sentimento que mais amo e venero – a liberdade!
No dia que eu morrer, quero cinzas de mim. As cinzas? Que sejam distribuídas nos banquetes dos corruptos, insensatos e maus de coração tirando-lhes a risada falsa, a alegria maldita, a volúpia infame.
Noutra parte, entreguem-lhes nos braços do mar, no colo de Iemanjá onde repousarei.
O tiquim que sobrar, juntem-nas as sementes de flanboyants e as semeiem nos solo de minha terra querida, perto de minha gente e dos meus.
No dia de minha morte, quero festa. Sanfona, zabumba e triângulo tiniiiinndo.
Aos presentes, bolo de puba, milho e batata doce. Para não engasgar, suco de qualquer coisa.
Não deixem faltar cachaça da branca e da amarela, esta última, curtida no carvalho.
Aos amigos de vida, peço apenas um brinde com os dizeres: - Pense n’um caba arretado!!!!
A morte é a primeira gota de vida, é o passo seguinte, é a renovação diária, é o que afasta da ignorância, da estagnação e da inércia; é aprendizado, é maturidade, é sabedoria.
A morte é quem dirige o belo espetáculo da vida.
Júlio Lima
Médico/Professor
E meu amigo.
Tomarei um café da manhã com sabor de infância feliz. Vestirei uma roupa leve e sem camisa. Estará chovendo. Darei a mão à chuva e dançarei consigo.
A água que alimenta, também equilibrar-me-á os humores, removerá a tristeza, eliminará o restim de melancolia, os nãos rejeitados, os sins infelizes, os por quês não explicados.
No dia de minha morte viajarei pelas mais belas paisagens terrestres e planetárias; comerei sem preocupação com o açúcar ou o colesterol, e cantarolarei rouco, desafinado e firme... em voz alta, claro!
A água que do céu viaja trará consigo a força antípoda da energia do fogo que me faz queimar, arder de satisfação por ter vivido, sentido e encontrado com quem convivi, por quem senti e compartilhei fluídos quânticos de prazer e/ou idéias, conduzindo-me a excelência de ser homem que faz de seus medos, a arma mais combativa e eficaz, na caminhada terrena.
Esse fogo que tanto me aquece o coração, por tantas e tantas vezes, conduzindo a lançar-me sem escrúpulos moralistas, ao sabor do não, bem aceito, do sim, certeiro, sem explicações vis.
Esse fogo em mim aceso pelo vento norte, vento sul, vento de todas as direções e que me aproxima dos pássaros, fomentando diuturnamente em mim, vivendo e degustando o sentimento que mais amo e venero – a liberdade!
No dia que eu morrer, quero cinzas de mim. As cinzas? Que sejam distribuídas nos banquetes dos corruptos, insensatos e maus de coração tirando-lhes a risada falsa, a alegria maldita, a volúpia infame.
Noutra parte, entreguem-lhes nos braços do mar, no colo de Iemanjá onde repousarei.
O tiquim que sobrar, juntem-nas as sementes de flanboyants e as semeiem nos solo de minha terra querida, perto de minha gente e dos meus.
No dia de minha morte, quero festa. Sanfona, zabumba e triângulo tiniiiinndo.
Aos presentes, bolo de puba, milho e batata doce. Para não engasgar, suco de qualquer coisa.
Não deixem faltar cachaça da branca e da amarela, esta última, curtida no carvalho.
Aos amigos de vida, peço apenas um brinde com os dizeres: - Pense n’um caba arretado!!!!
A morte é a primeira gota de vida, é o passo seguinte, é a renovação diária, é o que afasta da ignorância, da estagnação e da inércia; é aprendizado, é maturidade, é sabedoria.
A morte é quem dirige o belo espetáculo da vida.
Júlio Lima
Médico/Professor
E meu amigo.
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